Saturday, June 9, 2007

Gone with the flow

(http://retronew.net/index.php?b=17&pimg=273)

Esta corrente. Dos dias que passam quase sem se dar conta. Das horas que nos fogem sem conseguirmos contá-las pelos dedos sequer. Perdemos a noção do que dizemos e de quando foi isso. Sabiamos o que queriamos e do que precisávamos mas agora já não. Olhamos tudo e não vemos quase nada. Os nossos pensamentos são tantos e um só ao mesmo tempo. A corrente, aquela que nos puxa. Subimos e descemos, saltitamos entre a realidade e o sonho, mundos paralelos que se entrevêm. Temos medo mas continuamos a ir com a corrente. With the flow. Gone.

2 comments:

Sophia said...

Um lago de águas negras e turvas.
O mais provável é ter estado sempre ali, escondido algures. Mas, quando chega a hora, extravasa silenciosamente, gelando todas as células do corpo. Afogas-te nessa torrente cruel, lutando para respirar. Sobes até alcançar um respiradouro ao pé do tecto, sem nunca deixares de te debater, mas o ar que chega até aos teus pulmões é quente e seco e queima-te a garganta. Água e sede, frio e quente - estes elementos, aparentemente opostos, combinam-se para te subjugar.
O mundo é um espaço imenso, mas não vislumbras o espaço que te está reservado, e que nem sequer precisa de ser muito grande, bastando qualquer cantinho. Procuras uma voz, e o que é que encontras? O mais profundo silêncio. Procuras o silêncio, mas só consegues ouvir a voz da profecia. E por vezes esta voz profética acciona um interruptor secreto bem escondido lá no fundo do teu cérebro.
O teu coração é como um grande rio depois de uma forte chuvada, que transborda invadindo as margens. Todos os postes de sinalização que em tempos existiram no local desapareceram, inundados e arrastados pela corrente. E a chuva continua a cair desalmadamente sobre o leito do rio. De todas as vezes que observas nas notícias uma paisagem devastada pela força da corrente, como essa, repetes a ti próprio: É exactamente assim que o meu coração se sente.

Sophia said...

esqueci-me de citar... o texto é uma passagem do livro "Kafka à beira-mar" de Haruki Murakami...