Sunday, July 8, 2007

Sobre amar e deixar partir


"... Não só o sabia, confirmou ela, como o tinha ajudado a suportar a agonia com o mesmo amor com que o tinha ajudado a descobrir a felicidade. Porque isso tinham sido os seus últimos onze meses: uma cruel agonia.
- O seu dever era revelá-lo - disse o médico.
- Não podia fazer-lhe isso - respondeu ela, escandalizada. - Amava-o demais.
O doutor Urbino, que julgava já ter ouvido de tudo, nunca tinha ouvido nada igual, e dito de uma maneira tão simples. Olhou-a de frente, com os cinco sentidos, para fixá-la na sua memória como era naquele momento: parecia um ídolo dos rios, impávida no seu vestido negro, com os olhos de serpente e a rosa na orelha.
...
Não choraria uma lágrima, não desperdiçaria o resto dos seus anos a cozer-se em lume brando no caldo das larvas da memória, não se sepultaria em vida a costurar a mortalha dentro destas quatro paredes, como era tão bem visto que fizessem as viúvas..."


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2 comments:

Sophia said...

Se chorares, chora pelos momentos felizes. Guarda-os com carinho e não os deixes consumir-te.

Raquel said...

Primaaaa...quase que estavamos sintonizadas!!!Será o meu próximo livro, quando tiver coragem para acabar o que estou a ler de momento!!
Adorei todos os que li do Gabriel García Marquez e sei que este me vai interessar também pela parte cientifica/histórica!!
Jocas querida
I Love You!!! and I Love Your Blog!!